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Mudar para Portugal foi uma grande experiência para mim e para minha família.
Trocar o certo pelo duvidoso nunca é fácil, mas nestas situações também vale o ditado: quem não arrisca, não petisca.
Quando decidimos mudar para Portugal, meu marido veio primeiro, alugou apartamento, encaminhou documentação para visto, para autorização de residência e organizou a nossa vinda.
Eu e minhas duas filhas chegamos quase 3 meses depois.
O último mês no Brasil, foi um misto de ansiedade e de expectativa em relação ao novo país, mas também daquele frio na barriga pelo receio da mudança, além das lágrimas de despedidas e abraços prolongados de amigos e familiares.
Ao chegar em terras lusitanas, chegam também as novidades, as dúvidas, os desafios… Listo aqui, os itens que considero importante durante o período de adaptação ao novo país.
Mudar para o Norte de Portugal
Como foi a adaptação ao clima
Chegamos no mês de dezembro, em pleno inverno europeu que, especialmente em Braga, é muito chuvoso.
Apesar de estarmos acostumados com o frio (somos do Rio Grande do Sul), as semanas consecutivas de chuva em Braga foram difíceis.
Queríamos sair, desbravar a nova cidade e, no máximo, conseguíamos ir aos shoppings. A chuva era sempre acompanhada de muito vento e não tinha guarda chuva que resistisse.
Sair com duas crianças, e ainda sem carro, era um desafio.
O bom foi que o apartamento era novidade para as crianças, tínhamos que colocar o lar com a nossa cara e estávamos acompanhados dos padrinhos da minha filha mais velha que vieram até Portugal conosco para passear.
Logo nos primeiros dias no novo país, fomos passar um fim de semana em Lisboa e na região centro de Portugal já não chove tanto. A capital portuguesa é linda e ver o sol foi perfeito.
Logo, antes de se mudar é preciso pesquisar e ler sobre o clima e quando estiver escrito “inverno chuvoso” é porque chove mesmo.
Mas também não é nada que guarda-chuva, capa e galocha não resolvam. Aliás, esses itens são bons investimentos para quem planeja se mudar para o Norte de Portugal.
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Na prática, quais as primeiras coisas a fazer depois que mudar para Portugal?
Passadas as festas de Natal e Reveillon, começou a vida “de verdade”.
Nossos amigos foram viajar pela Europa e iniciou a nossa corrida para encontrar escola, creche, providenciar os documentos. Não vou mentir, esta etapa é, muitas vezes, chata, mas necessária. Filas e formulários a preencher, a busca por instituições de ensino sem ter nenhuma referência: qual escola é boa? Qual tem vaga? Quais são próximas de casa? Quais tem ônibus e fácil acesso?
É preciso paciência e disposição para colocar a vida em ordem. Mas tudo é um aprendizado.
Nesta etapa é muito importante ter planejado a mudança em termos de documentação – providência de cidadania portuguesa ou solicitação de visto. Meu marido tem cidadania italiana e nossa autorização de residência foi feita por reagrupamento familiar.
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Busca por escola
Passando dos documentos à busca por escola, o período também foi desafiador.
Chegamos com o ano letivo em andamento, então a busca de vaga fica por nossa conta.
Os Agrupamentos Escolares que costumam organizar as vagas, já não tem obrigação de indicar as escolas. O jeito é correr atrás, literalmente.
Saímos visitando todas as escolas que apareciam no trajeto.
Nessa fase, foi importante estarmos “conectados” com outros brasileiros que já estão em Portugal – conheci pela internet uma família de Santa Maria, RS (nossa cidade no Brasil) que há pouco tinha conseguido escola para a filha numa escola mais afastada do centro. Eles nos deram indicações de onde ir e com quem falar e no dia seguinte nossa filha mais velha estava matriculada no primeiro ano do primeiro ciclo.
E é a adaptação? Ou melhor, como fica o coração de mãe nessas horas? Eu estava feliz por encontrar a vaga, mas muito apreensiva em como seria a recepção, a professora, os colegas.
De mochila nas costas – com um material básico dentro – minha filha chega no portão, dá tchau e segue com passos firmes. Com certeza, mais corajosa que eu. A adaptação à escola teve seus desafios, mas todos foram sendo ultrapassados dia após dia.
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Transporte em Portugal
Outro item interessante da adaptação foi a mobilidade através do transporte público.
Nós ficamos um longo período sem carro – no Brasil, tínhamos dois e não fazíamos quase nada a pé.
A cidade de Braga tem muitas partes planas, as calçadas são boas, os caminhos são bonitos para se caminhar. Mas e o inverno chuvoso?
O jeito era ir de autocarro (ônibus). Logo, descobrimos um aplicativo que informa horários, linhas trajetos; um cartão com o qual é possível comprar viagens e pagar mais barato do que pagar no embarque. E tudo foi se ajeitando.
No autocarro também ampliamos o nosso círculo de amizades. Muitos brasileiros andam de ônibus para levar os filhos à escola. E quando chegou a primavera, as coisas ficaram muito melhores até porque caminhar pela cidade por ruelas cheias de história em seus monumentos e sua arquitetura é muito agradável.
Como administrar a vida longe das suas raízes?
Nos primeiros meses, são tantos afazeres e novidades que, confesso, não dá tempo para pensar na saudade, no que ficou para trás.
Mas com o tempo, é claro, vem o aniversário da mãe e você não está presente; chega o dia dos pais e você não está lá; as crianças choram ao ver os primos nas chamadas de vídeo.
A tecnologia e facilidade de comunicação ajudam, mas não é fácil nem para adultos, nem para as crianças. É preciso um dia de cada vez para a saudade se transformar em algo bom, para aprender a viver e amar à distância.
Talvez esse seja o aspecto mais delicado da adaptação a uma mudança tão grande, como foi mudar para Portugal.
Como fazer amigos?
Nessa fase, é importantíssimo fazer novos amigos; ter pessoas com quem conversar, com quem sair, as crianças precisam de parceria para brincar.
A parte positiva neste aspecto em Braga, e em Portugal como um todo, é que aqui vivem muitos brasileiros e, por estarem todos nesse processo de mudança e adaptação, as pessoas buscam umas às outras. É fácil pelos grupos das redes sociais marcar uma brincadeira para os que tem filhos, um café de mães, um encontro de jovens.
Depois desses contatos e encontros coletivos, cada um vai, por afinidade, formando seu círculo social.
Num primeiro momento, é mais fácil fazer amizade com brasileiros, porque os portugueses são mais quietos, mais “fechados” do que nós.
Mas, depois de entender os hábitos e costumes daqui, a aproximação com os portugueses torna-se algo natural: primeiro conversamos com os vizinhos, depois com os pais dos colegas de escola e por aí vai.
Como é o dia a dia em outro país, sem trabalho e sem vida social intensa?
No meu caso em particular, a rotina foi outra questão interessante.
No Brasil, eu trabalhava em redação de telejornal manhã e tarde, fazia, inclusive, plantões aos finais de semana e, de repente, estava em casa, disponível 24 horas por dia.
Foi bom, gosto de organizar a casa, eu passava o dia com a minha filha mais nova (1 ano na época); era tudo o que eu queria – afinal, sempre reclamava de falta de tempo.
Mas ser “dona de casa” para quem sempre trabalhou fora não é fácil.
Então, com três, quatro meses de mudança, eu comecei a buscar atividades para fazer: escrever para blog, ajudar com os filhos pequenos de mães que iam fazer entrevistas de emprego, trabalhei até em uma lancheria nas Festas de São João, que são famosas aqui.
No mês de setembro, iniciaram as aulas do Mestrado três noites por semana. Era o momento de voltar à vida de estudante, pegar ritmo de leitura e de trabalhos, conhecer pessoas novas. Foi muito bom e ajudou na adaptação. Começar uma atividade dá um “up” no humor, na motivação.
E a língua portuguesa? E a cultura em Portugal?
Para nós, a adaptação à língua foi tranquila.
Apesar de ter muitas diferenças entre o português do Brasil e de Portugal, todos se entendem e a comunicação acontece.
Aprender coisas novas da língua e da cultura é divertido e até ajuda na adaptação, na hora de conversar com alguém uma pergunta sobre o vocabulário pode ser o ponto de partida para uma “boa prosa”.
A língua exigiu um pouco de atenção na escola – comprei livros de historinhas em português de Portugal para ajudar minha filha. Nas minhas aulas do Mestrado, quando os professores falavam muito rápido, eu tinha ficar bastante atenta para compreender tudo.
Em relação à cultura, os portugueses tem muitas tradições interessantes, muitas festas, muita história preservada e isso é muito positivo. É preciso se adaptar, mas é uma etapa tranquila e cheia de descobertas.
Enfim, o que é preciso para se adaptar à vida ao mudar para Portugal?
Eu diria que disposição, persistência e amigos.
Disposição para encarar a mudança e organizar toda a “bagunça”, persistência porque algumas coisas precisam de tempo para se resolver e quem não tem persistência, e diria também paciência, pode desistir no meio do caminho. E isso não é bom.
Amigos novos que estão na mesma situação que a sua e uma relação saudável e positiva com os familiares e amigos de sempre que ficaram do outro lado do oceano.
A mudança nos faz crescer, e os desafios que surgem são lições para a vida.